sexta-feira, 7 de maio de 2010

SOBRE O DIA DAS MÃES


minha filha Maísa no colo de minha mãe Virginia

minha mãe e minha filha Aline

minha companheira Neusa, minha mãe e minha irmã Adenilda

O surgimento do movimento carismático na igreja católica, foi o fator determinante para o meu afastamento da mesma.
Minha mãe, sempre foi uma mulher de muita fé religiosa, mas não era freqüentadora da igreja, dizia que pra falar com Deus não era preciso ir à igreja, bastava se trancar no quarto e rezar, minha mãe rezava muito, sua vida era muito difícil, e sua crença em Deus ajudou-a sobreviver a tantas dificuldades que a vida lhe impôs. Muito pobre, passou vários anos vivendo na cidade com os filhos enquanto meu pai trabalhava no sitio, passava vários dias sem ir para casa. Decidiram que os filhos teriam que ir para a cidade(Bandeirantes) para aprender uma profissão, minha irmã mais velha Maria José(Nega), foi trabalhar de doméstica, meus dois irmãos Sebastião e José foram trabalhar em uma retifica de motores para aprender a profissão de mecânico(com menos de dez anos de idade), minha irmã mais nova(Adenilda) e eu(que já nasci na cidade) fomos estudar.
Mesmo não freqüentando a igreja, minha mãe fez questão que eu fizesse a catequese, em todo evento em que os pais eram convidados: seja na igreja, ou seja na escola, sempre estava minha mãe sozinha, meu pai nunca ia, eu percebia sempre em seu rosto a tristeza ao ver outros pais acompanhando suas esposas.
As lembranças que tenho de Bandeirantes são muito poucas, lembro-me das tardes de quarta feira, das senhoras que iam às novenas na igreja matriz, eu estranhava o ruído que elas faziam ao cochichar baixinho, parecia um assovio. Em relação a igreja, em Bandeirantes, a lembrança mais forte que tenho é da campanha no inicio dos anos 70 contra o divorcio, houve uma grande mobilização das famílias em frente a igreja.
Em Campo Mourão, já adolescente com 14 anos, comecei a freqüentar a capela do jardim alvorada. Aos 15 anos, já coordenava um dos subgrupos do grupo de jovens do jardim alvorada, o grupo na época contava com 80 participantes, por isso havia divisão em grupos menores, participei também ainda na adolescência da diretoria da capela. Através desse grupo de jovens tive a oportunidade de participar do congresso nacional da juventude em Aparecida do Norte, e depois de conhecer outros companheiros de outras comunidades de Campo Mourão. Minha mãe acompanhava de longe, apenas nos eventos mais importantes ela se fazia presente.
Dias atrás recebi um email que apontava a falta da crença em Deus como causa dos grandes conflitos que estamos vivenciando, principalmente em relação aos jovens. Então tentei fazer um paralelo dessa crença com a família, e voltei no tempo, e acabei por concordar em termos com o email.
Hoje não creio mais nesse Deus da minha infância e adolescência, mas como ele faz falta, como faz falta a casa de minha mãe. Uma psicóloga disse que as pessoas de esquerda sofrem mais, e é verdade, talvez enquanto estamos alienados, acreditando em Adão e Eva, em um salvador, acreditando que apenas pela oração a vida vai melhorar, os problemas irão se resolver, talvez pela falta de conhecimento a gente sofra menos.
Bons tempos aqueles em que apenas importava os ensinamentos de minha mãe, que em meus momentos de maior angustia ou duvida, nela eu tinha a certeza de uma fortaleza para me abrigar. Hoje ela está de cama, não consegue mais nem andar, ela que atravessava a cidade de Bandeirantes com uma trouxa de roupa na cabeça para conseguir míseros trocados, para nossa sobrevivência, ela que abdicou de sua vida, a partir da nascimento de seus filhos, ela que passou muitas horas de sua vida ajoelhada no quarto rezando por seus filhos, ela que passou muitas noites de sua vida acordada até o momento em que os filhos retornassem à casa. Mas hoje ela está lá, de cama, contando as horas e dias, que algum filho distante vá passar um momento ao seu lado. Eu aqui distante, me considero uma pessoa privilegiada por ter tido uma família, por ter tido uma mãe, a mãe VIRGINIA.

Um comentário:

  1. Viva a dona Virgínia. A mãe dos companheiros da gente, são mães da gente também....

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